"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas não faz mais do que existir. A verdadeira função do homem é viver, não existir". (Oscar Wilde)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ler Clarice é... Por Teresa Montero


Como amante dos escritos de Clarice Lispector, não posso me recusar a compartilhar com vocês a opinião de Teresa Montero, que muito bem descreve o sentimento de ler Clarice...


Ler Clarice é...


Ler Clarice é viver em permanente estado de paixão.

Ler Clarice exige uma mudança de postura do leitor no modo pelo qual ele se aproxima do texto.

É que o texto de Clarice pede uma escuta atenta, uma entrega de quem o lê. Clarice fala de coisas presentes no nosso dia-a-dia, o modo pelo qual reagimos aos acontecimentos mais banais, como andar na rua, olhar-se ao espelho ou conversar com um amigo. Ela nos mostra, também, outras coisas vivenciadas interiormente, aqueles momentos sem palavras dos quais só o nosso coração testemunha. Clarice escreve textos como quem vai desvelando a realidade, sondando os gestos, os olhares; tudo tão sutilmente que quando o leitor se dá conta vê-se diante de um instante mágico, especial, ao reconhecer a sua vida, a si mesmo, através daquelas palavras.
Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.
Ao publicar A paixão segundo G.H., Clarice escreveu uma pequena nota introdutória onde pedia que este livro só fosse lido por pessoas de alma já formada. Isso mostra até que ponto pode-se absorver o que o seu texto diz. Ao ler Clarice deve-se estar disposto a aceitar o não entendimento de determinados processos da vida.
Clarice dizia: “Suponho que entender não seja uma questão de inteligência, mas uma questão de sentir, de entrar em contato.” Isso faz parte do caminho aberto pelo seu texto. Cada leitor contém a sua bagagem particular de experiências, sensações, acionadas no momento da leitura; Clarice sabe disso e valoriza estas particularidades. Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).
Clarice escreveu crônicas, contos, romances, livros infantis, reportagens, páginas femininas, uma peça teatral, enfim, exercitou-se em diferentes registros de textos, mas imprimiu sua marca em todos eles: o texto interroga, faz o natural parecer sobrenatural, imprime um sentido ainda desconhecido por nós.
Viver essa experiência de ser leitor de Clarice é uma aventura no que ela tem de imprevisível, surpreendente, perigoso, ao mesmo tempo é um presente porque quando se está lendo Clarice você se sente especial dentro deste universo criado por ela. Especial porque você consegue se reconhecer como um ser humano cheio de limitações, sujeito às adversidades da vida, ao fracasso, às crises, mas também capaz de trilhar um caminho repleto de descobertas, de sustos, de grandes alegrias, de momentos de êxtase, vertigens, delírios.
Ler Clarice é a possibilidade de viver intensamente o que se é.
Para quem quer saber mais e se deliciar com Clarice e suas idiossincrasias maravilhosas:

Corporeidade, desenvolvimento e educação. Por Fabiane Leal em 22/04/2009


O Lugar da Corporeidade na Educação.

De acordo com as leituras feitas, assim como as discussões em sala de aula, no decorrer deste primeiro bimestre (Abril/2009), foi possível perceber a relevância da corporeidade na educação.
Conforme foi visto no texto de Rita Thompson, o desenvolvimento motor está intimamente ligado à aprendizagem e estes dois fatores mantêm uma relação dialética no que diz respeito ao amadurecimento da criança, que através das suas experiências sensório-motoras construirão conhecimentos. Agindo sobre o mundo a criança aprende a controlá-lo. Compreendemos melhor a importância da riqueza desse campo de exploração por parte da criança quando entendemos que serão estas vivências que (segundo Rita), coordenadas, ativarão, organizarão e irão estruturar o sistema nervoso do seu organismo. Portanto, aprendizagens e vivências são indissociáveis. Quanto mais intensas forem as vivências e experiências (assim como a afetividade), maiores serão as aquisições das crianças. Daí o reconhecimento da corporeidade na educação. E quando falamos de corporeidade, não estamos falando somente do corpo em si mesmo, pois ela se realiza no corpo, mas é animada pela alma. Ela guarda três dimensões que mantêm uma relação indissociável e complexa: fisiológicos (físico), psicológico (emocional-afetivo) e espiritual. A corporeidade é a maneira pela qual reconhecemos e utilizamos nosso corpo na relação com o mundo (sentir, pensar e agir).
A psicomotricidade destaca a relação entre a motricidade, a mente e a afetividade, facilitando a abordagem global da criança, uma vez que a função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados. É a vida vivida corporalmente que nos dará o verdadeiro significado das coisas, ao contrário de simplesmente ter ideia a respeito delas. Já que o corpo é um meio de comunicação com o mundo é conveniente darmos atenção a este fato e passarmos a inserir a corporeidade no cerne da educação, uma vez que isso significa trazer a vida, assim como as vivências, para o processo educativo.
Sendo assim é pertinente que pensemos numa educação psicomotora, já que possíveis implicações (perturbações corporal) podem decorrer da ausência dela. Cientes disso, devemos estar atentos aos sinais externos que indicam o estado funcional e neurológico da criança, já que eles podem nos indicar possíveis estados de atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor (dispraxia). A exemplo disso, podemos citar crianças que são desorganizadas espacialmente, lentas e com pouca habilidade nos jogos em grupo, além de apresentarem dificuldades na leitura e no cálculo. Claro que não significa dizer que toda criança com dificuldade de cálculo e na leitura sejam dispráxicas, mas devemos estar atentos aos sinais uma vez que a deficiência da educação psicomotora pode acarretar em conseqüências na aprendizagem, o que ratifica mais uma vez a dialética entre desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Segundo Rita, somente tendo conhecimento e controle de suas potencialidade é que a criança será capaz de desenvolver suas capacidades de análise, abstração, síntese e simbolização, aspectos fundamentais na construção de seus conhecimentos. Nesse sentido é que afirmamos serem, a estrutura da educação psicomotora, as condições mínimas necessárias para uma boa aprendizagem. É indubitavelmente visto que a psicomotricidade pesa consideravelmente sobre a aprendizagem e o rendimento escolar.
Falando em corporeidade é necessário também considerar os aspectos psicomotores importantes no desenvolvimento infantil e que interferem posteriormente na maturidade escolar. São eles: tônus, imagem corporal, esquema corporal, orientação espacial-lateralidade, orientação temporal, equilíbrio, percepção. Aspectos estes que precisam ser considerados pelo educador, uma vez que um bom desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas das capacidades básicas para o bom desempenho escolar.
Como educadora sei que devemos dar um lugar de destaque ao bom desempenho escolar em conseqüência de uma boa educação psicomotora, mas acredito que o enfoque maior deva ser o reconhecimento e a (re)construção de si mesmo. O corpo é uma maneira de ser no mundo e é através dele que estabelecemos contato. Ao mesmo tempo, não somos somente corpo. Conforme Morizot, toda relação corporal implica uma relação psicológica. E arrisco dizer afetiva também. O corpo não deve ser entendido somente como algo biológico, mas também como um lugar que permite expressar emoções e estados interiores. Nossas experiências são sempre vividas corporalmente. Emoção, afeto, ato motor, pensamento são vivências que se dão localizadas no corpo, oráculo de toda a história do indivíduo. Mesmo a subjetividade tem suas repercussões vividas no organismo. Percebe-se, então, que falar da abordagem do corpo na educação é falar também da construção/constituição da personalidade do indivíduo.
Desde o início da vida cada pessoa tem seu próprio modo de ser e estar no mundo. Desde o nascimento o bebê começa estruturar sua personalidade, descobrindo e desvendando o mundo que o cerca. Neste processo, a consciência do próprio corpo, tem papel fundamental nas relações entre o Eu e o mundo exterior, pois como já visto anteriormente o corpo é uma forma de comunicação com o mundo, além de expressar muito claramente nossa personalidade, traços de nós mesmos. Já é de conhecimento que o corpo fala e, portanto, que a forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou indisposição nas relações com as coisas, pessoas ou as situações. É extremamente relevante esse conhecimento de si mesmo, uma vez que as crianças sem a devida consciência dela mesma, não poderá se reconhecer como indivíduo.
Neste movimento de construção, constituição e reconhecimento da própria identidade é importante que o educador tenha plena consciência da relevância da adequada qualidade das relações estabelecidas no contexto escolar, já que ela (criança) desenvolve sua personalidade e acede ao mundo por meio do conjunto das trocas que assume com o meio ambiente e também com as pessoas do seu convívio. A criança buscará sempre o apoio do olhar de um outro alguém, adulto, que lhe assegure as experiências vividas. Daí a importância do apoio e envio de segurança por parte daqueles mais próximos responsáveis pela educação da criança. Um olhar de confiança, de coragem e apoio reforçará condutas e posturas positivas neste ser que está em construção de si mesmo, pautado nos referencias que tem próximo de si.
O que considerei mais interessante, durante os momentos de estudo a respeito do assunto, foi o fato de criarmos nossa singularidade justamente na relação com o outro. E como ratificação dessa ideia temos o pensamento de Morin (1996), ao dizer que “a definição de sujeito supõe autonomia-dependência do indivíduo, ainda que não se reduza a isso”.
Sem dúvida que a relação entre seres humanos é de fundamental importância uma vez que nos construímos em relação com os outros. A corporeidade na educação assume o papel de proporcionar esse suporte adequado às aprendizagens e crescimento dos indivíduos considerando seu Eu.

Educação Infantil, lugar de aprendizagem (Como organizar os espaços da creche e da pré-escola e integrá-los à rotina pedagógica) NOVA ESCOLA março/10


Para os pequenos, quase tudo na vida é brincadeira. Por isso, na Educação Infantil, não faz sentido separar momentos de brincar dos de aprender. Essa simultaneidade pede que espaços e rotina da escola sejam planejados de modo a proporcionar multiplicidade de experiências e contato com todas as linguagens, o tempo todo. Sem abrir mão, é claro, dos cuidados com segurança e saúde.
É nesse ambiente de aprendizagem que as crianças vão socializar-se e ganhar autonomia. “Dentro do espaço da Educação Infantil é necessária a integração entre o educador, o planejamento pedagógico e a organização dos lugares, que funcionam como mais um elemento educativo, como se fossem um professor a mais”, explica Elza Corsi, formadora do Instituto Avisa lá, de São Paulo.
Com essa concepção, que vai muito além da visão assistencialista, órgãos como Ministério da Saúde e Ministério da Educação prepararam documentos para orientar a organização dos espaços nesse segmento. Nas próximas páginas, você conhece essas indicações e entende como elas se relacionam com a rotina pedagógica na Educação Infantil.
Para aprofundar a leitura:
Brinquedoteca - Um espaço de brincar
Dica: Leia os artigos da Nova Escola que falam sobre o que não pode faltar na pré-escola!