"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas não faz mais do que existir. A verdadeira função do homem é viver, não existir". (Oscar Wilde)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Corporeidade, desenvolvimento e educação. Por Fabiane Leal em 22/04/2009


O Lugar da Corporeidade na Educação.

De acordo com as leituras feitas, assim como as discussões em sala de aula, no decorrer deste primeiro bimestre (Abril/2009), foi possível perceber a relevância da corporeidade na educação.
Conforme foi visto no texto de Rita Thompson, o desenvolvimento motor está intimamente ligado à aprendizagem e estes dois fatores mantêm uma relação dialética no que diz respeito ao amadurecimento da criança, que através das suas experiências sensório-motoras construirão conhecimentos. Agindo sobre o mundo a criança aprende a controlá-lo. Compreendemos melhor a importância da riqueza desse campo de exploração por parte da criança quando entendemos que serão estas vivências que (segundo Rita), coordenadas, ativarão, organizarão e irão estruturar o sistema nervoso do seu organismo. Portanto, aprendizagens e vivências são indissociáveis. Quanto mais intensas forem as vivências e experiências (assim como a afetividade), maiores serão as aquisições das crianças. Daí o reconhecimento da corporeidade na educação. E quando falamos de corporeidade, não estamos falando somente do corpo em si mesmo, pois ela se realiza no corpo, mas é animada pela alma. Ela guarda três dimensões que mantêm uma relação indissociável e complexa: fisiológicos (físico), psicológico (emocional-afetivo) e espiritual. A corporeidade é a maneira pela qual reconhecemos e utilizamos nosso corpo na relação com o mundo (sentir, pensar e agir).
A psicomotricidade destaca a relação entre a motricidade, a mente e a afetividade, facilitando a abordagem global da criança, uma vez que a função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados. É a vida vivida corporalmente que nos dará o verdadeiro significado das coisas, ao contrário de simplesmente ter ideia a respeito delas. Já que o corpo é um meio de comunicação com o mundo é conveniente darmos atenção a este fato e passarmos a inserir a corporeidade no cerne da educação, uma vez que isso significa trazer a vida, assim como as vivências, para o processo educativo.
Sendo assim é pertinente que pensemos numa educação psicomotora, já que possíveis implicações (perturbações corporal) podem decorrer da ausência dela. Cientes disso, devemos estar atentos aos sinais externos que indicam o estado funcional e neurológico da criança, já que eles podem nos indicar possíveis estados de atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor (dispraxia). A exemplo disso, podemos citar crianças que são desorganizadas espacialmente, lentas e com pouca habilidade nos jogos em grupo, além de apresentarem dificuldades na leitura e no cálculo. Claro que não significa dizer que toda criança com dificuldade de cálculo e na leitura sejam dispráxicas, mas devemos estar atentos aos sinais uma vez que a deficiência da educação psicomotora pode acarretar em conseqüências na aprendizagem, o que ratifica mais uma vez a dialética entre desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Segundo Rita, somente tendo conhecimento e controle de suas potencialidade é que a criança será capaz de desenvolver suas capacidades de análise, abstração, síntese e simbolização, aspectos fundamentais na construção de seus conhecimentos. Nesse sentido é que afirmamos serem, a estrutura da educação psicomotora, as condições mínimas necessárias para uma boa aprendizagem. É indubitavelmente visto que a psicomotricidade pesa consideravelmente sobre a aprendizagem e o rendimento escolar.
Falando em corporeidade é necessário também considerar os aspectos psicomotores importantes no desenvolvimento infantil e que interferem posteriormente na maturidade escolar. São eles: tônus, imagem corporal, esquema corporal, orientação espacial-lateralidade, orientação temporal, equilíbrio, percepção. Aspectos estes que precisam ser considerados pelo educador, uma vez que um bom desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas das capacidades básicas para o bom desempenho escolar.
Como educadora sei que devemos dar um lugar de destaque ao bom desempenho escolar em conseqüência de uma boa educação psicomotora, mas acredito que o enfoque maior deva ser o reconhecimento e a (re)construção de si mesmo. O corpo é uma maneira de ser no mundo e é através dele que estabelecemos contato. Ao mesmo tempo, não somos somente corpo. Conforme Morizot, toda relação corporal implica uma relação psicológica. E arrisco dizer afetiva também. O corpo não deve ser entendido somente como algo biológico, mas também como um lugar que permite expressar emoções e estados interiores. Nossas experiências são sempre vividas corporalmente. Emoção, afeto, ato motor, pensamento são vivências que se dão localizadas no corpo, oráculo de toda a história do indivíduo. Mesmo a subjetividade tem suas repercussões vividas no organismo. Percebe-se, então, que falar da abordagem do corpo na educação é falar também da construção/constituição da personalidade do indivíduo.
Desde o início da vida cada pessoa tem seu próprio modo de ser e estar no mundo. Desde o nascimento o bebê começa estruturar sua personalidade, descobrindo e desvendando o mundo que o cerca. Neste processo, a consciência do próprio corpo, tem papel fundamental nas relações entre o Eu e o mundo exterior, pois como já visto anteriormente o corpo é uma forma de comunicação com o mundo, além de expressar muito claramente nossa personalidade, traços de nós mesmos. Já é de conhecimento que o corpo fala e, portanto, que a forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou indisposição nas relações com as coisas, pessoas ou as situações. É extremamente relevante esse conhecimento de si mesmo, uma vez que as crianças sem a devida consciência dela mesma, não poderá se reconhecer como indivíduo.
Neste movimento de construção, constituição e reconhecimento da própria identidade é importante que o educador tenha plena consciência da relevância da adequada qualidade das relações estabelecidas no contexto escolar, já que ela (criança) desenvolve sua personalidade e acede ao mundo por meio do conjunto das trocas que assume com o meio ambiente e também com as pessoas do seu convívio. A criança buscará sempre o apoio do olhar de um outro alguém, adulto, que lhe assegure as experiências vividas. Daí a importância do apoio e envio de segurança por parte daqueles mais próximos responsáveis pela educação da criança. Um olhar de confiança, de coragem e apoio reforçará condutas e posturas positivas neste ser que está em construção de si mesmo, pautado nos referencias que tem próximo de si.
O que considerei mais interessante, durante os momentos de estudo a respeito do assunto, foi o fato de criarmos nossa singularidade justamente na relação com o outro. E como ratificação dessa ideia temos o pensamento de Morin (1996), ao dizer que “a definição de sujeito supõe autonomia-dependência do indivíduo, ainda que não se reduza a isso”.
Sem dúvida que a relação entre seres humanos é de fundamental importância uma vez que nos construímos em relação com os outros. A corporeidade na educação assume o papel de proporcionar esse suporte adequado às aprendizagens e crescimento dos indivíduos considerando seu Eu.

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